quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Médicos que conheço e as últimas eleições presidenciais

Numa rede social, presenciei diversos médicos dizendo que, em função da decepção pelo resultado das eleições presidenciais eles gostariam que o povão que elegeu a Dilma, no momento em que  o povão estivesse numa fila de atendimento do SUS, que não chamassem e implorassem por um atendimento médico, mas sim que chamasse a Presidente Dilma para ela resolver o assunto.
Nessa história não sei quem ficou mais indignado: eu com a atitude infeliz  dos médicos com uma declaração escrita e colocada na rede, com a falta de ética e de conhecimento desse médico ou o médico com o resultado da eleição presidencial.
O que quer esse médico deseja? Será que a Presidenta eleita  exercerá  essa  profissão? Afinal de contas o exercício da profissão de médico deve ser com autonomia, de tal forma que ele não seja obrigado a prestar serviços que contrariem os ditames de sua consciência ou a quem não deseje, excetuadas as situações de ausência de outro médico, em caso de urgência ou emergência, ou quando sua recusa possa trazer danos à saúde do paciente (o que nesse caso desses médicos já não está valendo).
Será que esses médicos sabem o que é o SUS? Certamente não. Senão não falariam uma bobagem dessas. E se soubessem? Como acreditar num profissional que, por razões que não consigo precisar (pois isso não é uma posição política) agita sua rede social com um diagnóstico que não é o real?
O Sistema Único de Saúde, SUS, instituído pela Constituição de 1988, estabeleceu as bases para um novo modelo de gestão da saúde pública no país, tendo como princípio fundamental a municipalização dos serviços, rumo oposto à centralização imposta pelo antigo Instituto Nacional de Assistência Médica e Previdência Social, INAMPS, modelo dos tempos da ditadura militar, que se esgotou na passagem dos anos 70 para os 80.
O SUS descentralizou a assistência à saúde pública: federação, estado e municípios trabalham conjuntamente, mas com funções diferentes. À federação, por meio do Ministério da Saúde, cabe elaborar um planejamento nacional para a saúde e repassar as verbas para os estados e os municípios; aos estados compete promover a municipalização, prestar apoio técnico e financeiro aos municípios, além de desenvolver ações suplementares na saúde; aos municípios cabe fazer a gestão do sistema local de saúde. A saúde e o SUS é um bem público e será que esses médicos entendem o SUS como um bem público?
A proposta do SUS é pluripartidária e nos locais onde os governos são comprometidos com as questões democráticas e com uma saúde de qualidade, o SUS avança.
A verbas que sustentam o SUS foram definidas pela emenda constitucional nº 29, promulgada em 13 de setembro de 2000, que prevê que os fundos federais reservados à saúde para o ano de 2000 devem ser acrescidos de 5% ao valor gasto em 1999, sendo posteriormente corrigidos pelo processo inflacionário e pelo aumento do PIB.  Essa emenda também determina que os governos estaduais terão de aplicar anualmente 12% de seus orçamentos em Saúde. Já os municípios participarão com 15% de sua receita. Mesmo com os recursos garantidos, não é simples manter um sistema de saúde de qualidade. Uma parte do atendimento do SUS tem alta complexidade, como é o caso da hemodiálise, de custo elevadíssimo. Em São Paulo, por exemplo, o Estado de São Paulo banca grande parte da assistência de alta complexidade e o mais interessante é que, mesmo as pessoas que têm convênio privado, usam o SUS para esses tratamentos
Esses médicos que escrevem esse tipo de baboseira em redes sociais precisam ficar atentos pois a relação do médico com a ética e sua participação direta com pacientes e sociedade em geral está bem estruturada e regulada pelo Código de Ética Médica, representando um avanço na segurança do exercício da medicina, bem como um meio de se cobrar a atuação de maus profissionais.
A propósito, para esses médicos que estão insatisfeitos no Brasil, a ONU está contratando para combater o vírus ebola na África.  Porque não se candidatam?
Como dizia um amigo: “se a Medicina daqui tem dessas coisas, imagine a da Jamaica”.
Será que essa classe de médico sabe que, sentindo-se lesado por uma má conduta de um determinado médico, o "paciente" pode fazer uma denúncia junto ao Conselho Regional de Medicina, sobre eventual prática de infração às normas previstas no Código de Ética Médica, além de poder acioná-lo também nas vias do Poder Judiciário Cível e Criminal?

Nenhum comentário:

Postar um comentário